quinta-feira, 5 de março de 2009

perto do sitio onde moro

Há um banco no jardim na cidade. Fica perto do sitio onde moro. Basta apenas sair, andar uns metros, apanhar o autocarro, sair oito paragens depois, andar mais um pouco. Baixar a cabeça, olhar para os pés, continuar a caminhar, entrar no jardim e passar por cinco ou seis bancos. E é logo aí. E aí que ele está. Nem antes nem depois. Aí. Um banco de jardim. Não "o banco de jardim". Não o "meu banco de jardim". Apenas "aquele banco de jardim". Aquele banco de jardim perto de minha casa onde me vou sentar um pouco quando nada tenho a fazer.
A partir daquele banco de jardim consigo ver o mundo, tal como conseguiria a partir de qualquer outro banco de jardim, mas eu, eu vejo daquele. Não é algo que não possa mudar. Não é nada que não vá possivelmente mudar. É apenas a realidade. Aquilo que até agora ainda não mudou.
Á minha frente está uma senhora de casaco azul e saia cuja cor é quase irreconhecivel pelo uso que aparenta ja ter tido, mas eu, ouso dizer que um dia foi vermelho vivo, agora, não tão vivo. Olhos azuis perdinos no tempo, um terço na mão e um ar aflito, numas feições que passaram mais quentes verões que as minhas. Não sei o que lhe acontecerá. Não sei se espera o jovem de dezoito anos que partiu para a guerra á 60 e não voltou. Não sei se espera a filha engenheira que a colocou num lar e nunca mais voltou, ou prometeu voltar, mostrar o neto a avó. E se assim for não sei se veio se não. Mas duma coisa sei. Sei que aquele é o seu banco de jardim. E este o meu. E mesmo a dois passos de distância os nossos mundos nunca se tocarão, pois este banco fica perto do sitio onde moro e aquele não.

1 comentário:

  1. brutal! a ultima frase é excelente mesmo. gosto imenso da ideia, e da forma como a escreveste :D cocó para ti e para os teus ^^

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